quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Canção Revisitada


Nada do que vi aquele dia me compensaria mais. Um dia como outro qualquer. Mais um dia de pesquisa na Biblioteca Pública para minha monografia da faculdade. Trabalho árduo, mas necessário e compensador no futuro, espero. Normalmente, chego, vou até o fundo da sala de pesquisa, num lugar tranqüilo, ler e escrever, ler e escrever.Várias são as pessoas que costumam freqüentar aquele lugar, muitos interesses, muita procura por saber. Mas aquele dia alguém me chamou a atenção.Andava pelas estantes de livros apenas passando a mão sobre eles. Olhando atentamente, como se procurasse alguma coisa valiosa, especial. O indicador passava pelos títulos devagar, os olhos, atentos, quase não piscavam. Ele se abaixava, via os livros da estante de ficção, ficava na ponta dos pés, lia os nomes de aventuras. Virava-se para a outra que estava em suas costas, os clássicos estavam lá. Seguia à frente, História, Geografia, Artes! Tudo era observado meticulosamente! Normalmente, um freqüentador de biblioteca vai até lá para um determinado fim, para uma determinada pesquisa, com um objetivo específico. Aquele ali parecia não se importar com nada, nem com o tempo, queria apenas olhar, examinar, sentir os livros. Sentir os livros! Nunca pensei nisso. Podíamos sentir os livros! Eu vi isso naquele homem.Ele aparentava ter passado dos quarenta anos, pessoa modesta pelos trajes que usava. Chinelos nos pés. Camisa surrada. E estava ali, na biblioteca, sentindo livros. Como pesquisadora, senti curiosidade de ir até lá conversar com ele, mas temi desfazer o encanto.Levantei-me e fui até a bibliotecária, com a desculpa de saber sobre um autor para meu trabalho. Perguntei a ela sobre aquele moço, o que ele estava procurando. Ela me disse uma das coisas mais incríveis que já escutei. Aquele homem passou a vida inteira sem saber o valor das palavras, sem saber decodificar os sinais que nós já aprendemos na infância, com seis, sete anos, aquele homem tinha acabado de ser alfabetizado, tinha acabado de dar sentido àqueles símbolos estranhos para sua visão já cansada do mundo. Aquele homem ia à biblioteca sentir os livros, ver as maravilhas que as palavras podiam proporcionar, quantos livros, quanto conhecimento, quanta sabedoria.Fiquei pensando em quanto tempo ele gastaria até poder colocar em dia todo o tempo perdido. Aquele homem tinha aprendido o valor das palavras, o tesouro escondido nos livros, a vastidão da cultura.Todos os dias ele ia lá. Todos os dias ele tocava os livros antes, depois escolhia um e levava para ler, em casa, talvez. Todos os dias ele devorava, sim, com voracidade, as letras, palavras, sinais de pontuação, páginas e mais páginas de puro conhecimento, de pura ânsia pelo desconhecido. E eu pude presenciar isso. Pude presenciar o encanto, a magia daquele que descobriu o mundo, ou um mundo paralelo que sempre existiu, mas não fazia parte da sua vida, que o excluía da vida. O mundo para ele se tornou uma linda canção. Canção que dá sentido a sua vida.E eu peço licença para mostrar o que vi, o que senti no brilho dos olhos do homem que aprendeu a ler. Licença a Thiago de Mello, sua canção é uma das mais lindas que já vi.
Nancy Nogueira Souza Maestri

domingo, 16 de novembro de 2008

NAVEGAR





Somos nosso próprio navio! O mar está aí, imenso, às vezes sereno, às vezes tumultuado, mas está aí. Fazer o quê? Içar as velas e navegar! E como navegar? Como preparar meu barco, meu precioso barco para navegar nesse mar azul, ou será cinza? Meu mar, ah, meu mar! Imenso mar!
Preparo, desde a base, o casco forte, firme, com madeiras de lei para agüentar todas as tormentas, calmarias, o que vier. Mas tenho que preparar meu barco. O vento vem, é uma chance, uma oportunidade, uma forma de me levar adiante, de conquistar novos mundos, descobrir novas terras, navegar outros mares.
Ah, meu mar! Minha família, meus amigos, meus desejos, meu vento! Minhas velas içadas me levam adiante, estimuladas pela força desse vento. O estudo me preparou, a família incentivou, os amigos ampararam, meu vento!
Eu sou meu navio, navego nesse mar imenso, às vezes calmo, às vezes turbulento.
Piratas? São muitos os que aparecem. Parecem querer desviar-me do destino. Saqueiam nossos sonhos. Só deixo se quiser. Quem escolhe meu destino? O vento? As velas? Os piratas? Não! Eu, meu barco, a estrutura que preparei para sustentá-lo.
Queria falar a todos, queria mostrar a todos como é importante navegar preparado, aproveitando cada oportunidade que nos aparece, o vento! Mas, para isso, é preciso estar equipado, barco forte, forte base, estrutura inigualável para sustentar a vontade de seguir adiante, passar por todos os percalços e alcançar o porto desejado.
Não há vento que ajude se não se sabe a que porto se quer chegar.
Meu destino, meus desejos me orientam ao porto que pretendo alcançar. Mantenho minha visão ao porto. Quero chegar àquele porto, àquele que sempre almejei, sempre quis isso, para mim, sempre. E sempre preparei meu barco para que isso acontecesse.
Meu mar, ah, meu mar, imenso mar! Minha vida, eu navego com meu barco preparado para atingir meu horizonte, meu porto, aquele que escolhi para chegar.

Nancy Nogueira Souza Maestri